Hoje quero compartilhar um pouco das experiências de lares que vivi. Ao longo da minha infância até o começo da fase adulta, mudei algumas vezes de cidade, e cada lugar trouxe suas próprias culturas, sotaques e costumes. Hoje, vejo o quanto isso me ensinou.
Nasci em Vitória, no Espírito Santo, onde morávamos em uma casa com jardim. Essa casa foi construída enquanto eu ainda estava na barriga da minha mãe. Será que foi aí que nasceu minha paixão por arquitetura? Era uma casa pensada para a família e para receber amigos. Minha irmã tinha dois anos quando meus pais se mudaram do Rio de Janeiro para lá, e eles já haviam morado em outras cidades antes disso.
Minhas lembranças dessa casa são poucas, pois eu era muito pequena. Mas lembro do piso de madeira, dos espaços amplos e de como aprendi a andar lá. Foi o cenário das minhas primeiras festinhas de aniversário, dos banhos de mangueira no jardim e das visitas à casa da minha nonna, que ficava ao lado. Tudo isso rodeado de familiares e amigos, uma infância livre e cheia de memórias.
Quando eu tinha 4 anos e meio, aconteceu nossa primeira mudança: fomos para Curitiba, no Paraná. Lá, mudamos para um apartamento em um prédio cercado por uma reserva de araucárias. Tinha piscina, churrasqueira, quadras, parquinho e um bosque enorme. Foi ali que vivi a melhor parte da minha infância, sempre brincando com a “gurizada” no térreo e indo a pé para a escola com os amigos. Nos fins de semana de sol, estávamos todos na piscina.
O apartamento em Curitiba era espaçoso, e no inverno nos reuníamos na sala da lareira para ver TV. As refeições eram sempre em família, um ritual que se repetia no café da manhã, nos momentos de assistir nossos programas favoritos e até nas tarefas escolares. Esses pequenos rituais diários criavam uma rotina confortável e familiar.
Aos 14 anos, veio uma nova mudança, desta vez para Araraquara, interior de São Paulo. Confesso que essa foi a mais difícil. Não queria deixar meus amigos, minha festa de 15 anos planejada, e a tão sonhada viagem para a Disney. Fomos para uma casa com uma boa área externa e piscina. Aos poucos, fomos adaptando a vida ali, e a casa se encheu de churrascos com amigos e familiares. E mesmo com as mudanças, nossos rituais de refeições em família e assistir TV juntos continuaram, mesmo que às vezes fosse só eu e minha mãe, já que meu pai viajava muito a trabalho e minha irmã estava na faculdade em outra cidade.
Com 18 anos, veio a última mudança de cidade (por enquanto). Fomos para São Paulo, a terra da minha mãe. Eu estava indo por causa da faculdade, e meus pais decidiram vir junto, já que Araraquara já não fazia mais sentido para nós. Nosso novo lar era um apartamento com grandes janelas, um imóvel antigo com ambientes amplos, exatamente como todos os outros lares em que moramos. Mantivemos nossos rituais, comendo juntos e assistindo TV na sala, nunca nos quartos, pois meus pais sempre prezaram esses momentos de união.
Aos 23 anos, mudamos de apartamento, ainda no mesmo bairro. Outro imóvel antigo, com piso de madeira e muita luz natural. É onde meus pais vivem até hoje.
Quando completei 31 anos, fiz minha mudança pessoal: saí da casa dos meus pais e aluguei meu primeiro apartamento. Nos fins de semana, voltava para almoçar com eles, mantendo nosso ritual de cozinhar juntos. Mesmo sendo um apartamento alugado, aos poucos fui transformando-o em um lar. Pintei paredes, troquei luminárias e trouxe objetos pessoais que me traziam memórias afetivas. Assim, mesmo sem poder mudar o piso de porcelanato, que sempre me incomodou, o apartamento começou a se parecer mais com um lar.
Finalmente, aos 36 anos, comprei meu próprio apartamento. Fiz uma pequena reforma para deixá-lo do meu jeito e, claro, coloquei piso vinílico, que lembra os pisos de madeira de todos os outros lares onde vivi. Trouxe móveis com memória afetiva, objetos herdados da família, tudo pensado para transformar o apartamento em um lar que refletisse quem eu sou, onde continuo escrevendo minha história.
Por que estou contando tudo isso? Porque acredito que, quando um lar é bem montado e tem um forte senso de pertencimento, não importa quantas cidades ou casas você passe. Seu DNA está ali, sua história está preservada naquele espaço.
Em cada lugar que morei, nossos pequenos rituais de refeições, assistir TV juntos, conversar sobre o dia, jogar, cozinhar e rir juntos foram o que transformou casas em lares. Hoje, olhando para trás, vejo como isso foi importante para mim, e sou muito grata aos meus pais por terem criado esse ambiente de afeto e união.
Obrigada, amo vocês.